Glutamina: o que é o aminoácido que fortalece imunidade
Se você acompanha as tendências do mundo esportivo ou busca uma vida mais saudável e ativa, é provável que já tenha ouvido falar dos suplementos de glutamina em pó.

Eles ganharam popularidade pela promessa de melhorar o sistema imunológico, ou seja, aumentar a capacidade do corpo de se defender contra doenças e infecções.
Embora a indústria ofereça diversas versões desse suplemento, já está presente em nosso organismo, sendo o aminoácido mais abundante entre os 20 existentes no corpo humano.
O que é a glutamina e para que ela é importante

Em geral, os aminoácidos funcionam como os “ingredientes principais” para formar as proteínas, que, por sua vez, desempenham funções vitais como construção muscular, fortalecimento do sistema imunológico e recuperação de tecidos danificados (como após uma lesão, quando o corpo precisa regenerar músculos ou pele).
Além de serem formados por proteínas, os músculos também têm a capacidade de sintetizar alguns aminoácidos, como este aminoácido — criando um ciclo de produção e consumo que mantém o equilíbrio do corpo.
Cerca de 80% da glutamina disponível no corpo é produzida nos músculos; o restante é sintetizado por outros órgãos, como os pulmões, o fígado e os rins.
Os aminoácidos podem ser classificados como:
- Essenciais: devem ser obtidos por meio da alimentação;
- Não essenciais: o corpo é capaz de sintetizá-los por conta própria — como é o caso deste suplemento.
Uma pessoa saudável, com uma alimentação rica em proteínas — incluindo carnes magras, peixes, ovos, laticínios, leguminosas (como feijão e lentilha) e oleaginosas (como nozes e amêndoas) — e com boa saúde muscular, é capaz de produzir naturalmente uma quantidade adequada de glutamina, sem necessidade de suplementação.
“Além disso, há muitas dúvidas sobre a suplementação de L-glutamina, que é a forma isolada do aminoácido. Quando a glutamina é ingerida oralmente, a maior parte dela não chega a ser liberada na corrente sanguínea. Ou seja, não há aumento significativo da disponibilidade para o organismo”, explica Thalia Müller, nutricionista da Herbolab.
A nutricionista esportiva Thalia, explica que a fama da glutamina como agente importante para a imunidade faz sentido, mas acrescentar mais desse aminoácido via suplementos não potencializa esse efeito.
“A glutamina é, de fato, um substrato essencial para as células do sistema imunológico, pois serve como fonte de energia para células que se dividem rapidamente. A teoria é que, ao aumentar a disponibilidade de glutamina, haveria melhora na função imunológica. Mas não há comprovação científica para isso”, afirma a nutricionista.
A glutamina também participa de outras funções importantes no organismo.
“Ela desempenha um papel crucial em situações que exigem intensa formação celular, como em processos de cicatrização ou regeneração”, aponta Thalia.
“Também é importante em casos que exigem rápido rearranjo intestinal. Por exemplo, após infecções alimentares, quando há perda de células intestinais, a glutamina pode ser útil por auxiliar na replicação celular”, completa.
Quando faz sentido suplementar?

Existem, no entanto, situações em que a glutamina pode ser considerada “condicionalmente essencial”.
Ou seja, em casos de estresse físico extremo — como queimaduras graves, sepse ou treinos muito intensos e prolongados — a suplementação pode ser indicada.
Nesses cenários, a produção natural de glutamina pode não ser suficiente para atender à demanda aumentada. Mas cada caso deve ser avaliado individualmente por um profissional de saúde.
Durante esses períodos de estresse, a glutamina pode ser usada como substrato energético, sendo convertida em glicose (açúcar) pelo processo de gluconeogênese — a produção de glicose a partir de fontes não carboidratas.
Isso ocorre quando os estoques de carboidratos estão esgotados, e o corpo precisa buscar outras fontes de energia, especialmente para manter o funcionamento das células imunológicas e de tecidos vitais.
“Atletas que consomem quantidades adequadas de carboidratos, proteínas e gorduras ao longo do dia conseguem evitar quedas nos níveis de glutamina, mesmo em treinos intensos. Isso reforça que uma dieta bem planejada supre as necessidades sem exigir suplementação”, afirma Thalia.
Uso de glutamina para outros fins

Quanto ao uso da glutamina em contextos como tratamento de diabetes ou melhora da saúde intestinal, Engel aponta que há estudos e hipóteses em andamento, mas ainda nenhuma evidência sólida que justifique seu uso como solução terapêutica.
“Esse suplemento já teve mais apelo no passado, mas hoje as pessoas começaram a perceber que ele não é tão essencial quanto parecia. Ainda há grupos que o utilizam, principalmente os focados na saúde intestinal, mas o mais importante é a qualidade geral da alimentação — não a suplementação isolada”, conclui.