Suplementação de vitamina D agora é recomendada para todas as crianças e adolescentes
A atual recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) é que toda criança e todo adolescente suplementem vitamina D até os 18 anos. Até outubro de 2024, a sugestão era fazer essa complementação apenas até 1 ano de idade.

O objetivo é evitar a deficiência desse nutriente nessa faixa etária, pois sua falta pode levar a condições como raquitismo (enfraquecimento dos ossos e deformidades esqueléticas), infecções respiratórias e problemas na saúde óssea.
A seguir, esclarecemos as principais dúvidas sobre a suplementação para esses grupos.
De onde vem a vitamina D?
Cerca de 90% da vitamina D é obtida pela síntese cutânea após a exposição solar, enquanto os 10% restantes provêm da alimentação. No entanto, segundo a SBP, os principais alimentos ricos nesse nutriente não fazem parte da dieta habitual dos brasileiros. Entre eles, destacam-se peixes de água fria, como atum, arenque e salmão, além de óleo de fígado de bacalhau e fígado bovino.
Embora existam alimentos fortificados com vitamina D, como leites e cereais, seu consumo não é suficiente para que as crianças atinjam os níveis adequados.
Qual é a função dessa vitamina?

A principal função da vitamina D no organismo é regular os níveis de cálcio e fósforo no sangue, fundamentais para a saúde óssea. Além disso, esse nutriente exerce outras funções importantes, como atuar no fortalecimento muscular e no sistema imunológico.
Qual nível é considerado saudável?
Não há um consenso internacional sobre os valores ideais de vitamina D, pois cada sociedade médica adota uma referência específica.
A SBP classifica a deficiência desse nutriente da seguinte forma:
- Deficiência: níveis abaixo de 20 ng/mL
- Deficiência grave: níveis inferiores a 12 ng/mL
Atualmente, a recomendação da SBP para ingestão diária é:
- Crianças acima de 1 ano e adolescentes: 600 UI
- Bebês menores de 1 ano: 400 UI
Lembrando que toda suplementação deve ser feita com supervisão médica.
A região onde a criança mora faz diferença?

Embora o Brasil tenha sol durante boa parte do ano, a deficiência de vitamina D é um problema comum.
Um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) analisou quase 414 mil exames de vitamina D em crianças e adolescentes de 0 a 18 anos, coletados entre janeiro de 2014 e outubro de 2018. Os resultados indicaram que 12,5% das amostras apresentavam deficiência.
Os efeitos da sazonalidade e da localização geográfica foram evidentes. No Sul do Brasil, por exemplo, 36% das crianças tinham deficiência de vitamina D no inverno, e 5% apresentavam deficiência grave.
Toda criança precisa dosar a vitamina D?
Devido às variações sazonais e regionais, a SBP não recomenda a dosagem de vitamina D para todas as crianças e adolescentes. Isso porque vários fatores influenciam os níveis desse nutriente no organismo, como:
- Cor da pele (quanto mais escura, menor a absorção da vitamina D)
- Estágio da puberdade
- Composição corporal (quantidade de gordura no corpo)
- Época do ano (exames feitos no inverno tendem a mostrar níveis mais baixos)
- Região geográfica (incidência de raios ultravioleta varia conforme a localização)
O pediatra deve avaliar individualmente o risco de deficiência para indicar ou não a dosagem.
Se a criança pratica esportes ao ar livre e se expõe ao sol regularmente, não há necessidade de suplementação. No entanto, se ela permanece muito tempo em ambientes fechados e não consome alimentos ricos em vitamina D, a suplementação pode ser recomendada sem a necessidade de exames prévios.
Nos casos de suspeita de doenças renais, hepáticas ou autoimunes, o pediatra deve solicitar a dosagem para avaliar os níveis de vitamina D e definir a suplementação adequada.
Quais são os riscos de suplementar sem orientação médica?
A administração de vitamina D sem acompanhamento pediátrico não é recomendada.
Diferentemente das vitaminas hidrossolúveis, que são eliminadas na urina quando consumidas em excesso, a vitamina D é lipossolúvel, ou seja, se dissolve em gordura e pode se acumular no organismo. Esse acúmulo pode trazer riscos à saúde.
O excesso de vitamina D pode levar à hipervitaminose D, condição que causa hipercalcemia (aumento excessivo do cálcio no sangue), resultando em sintomas como:
- Náuseas
- Vômitos
- Fraqueza
- Problemas renais (em casos mais graves)
Esse quadro não ocorre com a dose recomendada pela SBP. No entanto, algumas pessoas ingerem quantidades muito superiores às indicadas, o que pode levar a complicações.